Por que eles não
voltam?
A professora Suki, responsável pelo Caldeirão Cultural, convidou professores e alunos para assistirem ao filme “Eles Voltam”, em cartaz
na Sala de Cinema da UFBA. Esta exibição faz parte de um programa a
Universidade, em parceria com o Governo Federal, que prestigia filmes
nacionais.
Então, como sou cinéfila,
não perdi a oportunidade, principalmente por se tratar de cinema nacional.
Outros participantes do Projeto Tela Brasil também se fizeram presentes.
O
filme, com argumento e realização de Marcelo Lordello, nos envolve pela
angústia.
Marcelo Lordello - Roteiro e direção |
A
história é basicamente a seguinte: dois adolescentes são deixados pelos
próprios pais na estrada, pois estavam brigando no carro. Como castigo, os pais
fazem com que eles desçam do carro. Aparentemente, a ideia seria pegá-los de
volta, mas isso não acontece. O irmão mais velho, então, deixa a irmã de 12
anos aguardando o retorno dos pais, enquanto ele vai até um posto de gasolina
pedir ajuda. Entretanto, o irmão também não retorna. A garota dorme num banco,
ao relento.
O tempo passa, e neste
quesito vemos o tempo passar muito lentamente. As imagens são propositadamente
fixas, quase sem som. É como se o roteiro nos desse tempo para refletir. O
texto/argumento é totalmente reflexivo. O tempo todo o espectador se pergunta:
por que os pais não voltam? Por que essa menina não sai deste lugar?
A menina é levada por
um morador das redondezas, um adolescente um pouco mais velho que ela e a mãe
desse garoto, junto com outros moradores do assentamento em que vivem providenciam
ajuda, oferecendo parte de suas colheitas para que uma das moradoras leve a
garota e entregue ao juizado de menores ou à polícia.
Cris,
que é uma garota muito reservada, sem sorrisos e poucas falas, passa por
situações completamente diferentes de seu cotidiano (uma vida abastada e com
muito conforto).
Ao observar o “novo
mundo” Cris vai também se conhecendo e aparentemente se dá conta de que há
vidas completamente diferentes do mundinho dela e de suas colegas da escola de
classe alta. Isto pode ser observado quando, de volta pra casa, ela ouve junto
com o avô o noticiário informando que Sem Terras foram presos, e o avô fica
contente, mas ela afirma que se ele tivesse visto o que ela viu não pensaria
daquela forma. Cris transforma-se, de certa forma, perdoa o irmão por
abandoná-la, mas antes o faz refletir também sobre a ação do abandono.
Enfim, o filme nos
remete a reflexões existenciais, sociais e afetivas. O que fazemos com nossos
filhos? Como os fazemos amadurecer? O que oferecemos a eles? O que eles sabem
sobre a nossa sociedade? Em que país vivemos? O que sabemos sobre as diferenças
existentes entre nosso povo?
Uma reflexão
necessária.
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